É isso mesmo, você leu certo. Não é caipirinha, e sim o Rabo de Galo, o coquetel mais consumido no Brasil. Para você ver que nem sempre os símbolos nacionais são iguais à cultura gastronômica local de fato.
Assim como a caipirinha, seu ingrediente principal é a cachaça, mas diferente dela, o Rabo de Galo não ganhou fama mundial. Talvez por isso mesmo ele seguiu sendo bebido despretenciosamente nos bares e butecos nacionais. Mas agora, há um movimento que quer dar ao Rabo de Galo um reconhecimento merecido a par com sua popularidade.
Ele nasceu nos butecos de São Paulo como uma criação da Cinzano, fabricante de vermute que chegou à cidade nos anos 50. A despretenção estava na sua origem. Desde o nome, originalmente batizado com certo refino com a palavra americana “cocktail”, mas que logo foi jocosamente traduzida ao pé da letra; até seu copo que ganhava um vidro mais grosso na base para aguentar ser batido no balcão.
Agora não só ele sai dos butecos e chega aos cares mais descolados das grandes cidades, como os bartenders e amantes dos drinks estão com uma campanha para colocá-lo na lista da Associação Internacional de Bartender (International Bartender Association, IBA) — onde, por sinal, já está a caipirinha. A lista reúne oficialmente todos os grandes coquetéis do mundo (apenas 62 ao todo), com suas receitas oficiais.
Embora o drink excelente mereça o prestígio, a parte da receita oficial talvez seja um pouco difícil. Isso porque ele não tem exatamente uma receita. A lista de ingredientes principais é cachaça e bitter (uma infusão alccólica amarga, como o nome indica, de raízes, folhas, frutos ou especiarias). Mas a proporção é incerta. Originalmente era 2/3 de cachaça para 1/3 de bitter, porém, cada cidade (ou até mesmo bar), usa seu bitter de preferência na proporção de seu paladar. Em São Paulo, por exemplo, onde foi inventado, ele é feito com vermute; em Minas Gerais, com cynar.
Nem o preparo do Rabo de Galo é padronizado. Os destilados podem tanto ser misturados num mixing glass com gelo, ou direto no próprio copo de servir. E é exatamente exatamente sua despretenção toda a graça do drink. Entrando ou não na Associação Internacional de Bartender, uma coisa é fato, o brasileiro seguirá tomando seu Rabo de Galo e batendo o copo no balcão do bar, seja ele um buteco do centro, ou o novo restaurante de pinheiros.
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O Rabo de Galo dessa foto é do restaurante e bar Solo, em São Paulo.